Universo Paralelo
"O sofrimento sempre acompanha uma inteligência elevada e um coração profundo. Os homens verdadeiramente grandes experimentaram uma grande tristeza, acometido de uma melancolia súbta." - Dostoiévski
quinta-feira, 16 de janeiro de 2020
Sem título
quinta-feira, 9 de janeiro de 2020
Soterrada
Ao entrar no prédio, a galeria que levava aos elevadores tinha o teto pintado como o céu, um corredor imenso com o teto de céu. Tão lindo que parei para apreciar a pintura por alguns minutos e por diversas vezes acreditei que eu estava mesmo entre as nuvens, senti o cheiro do 'paraíso' e a paz da imensidão azul. O sentimento foi tão intenso que cheguei a esquecer qual era o número da sala da dona Flor.
Caminhei por apenas um segundo e tudo ficou escuro e confuso.
Eu não podia me mexer e sentia muita dor. Desmaiei.
Ao recobrar a consciência foi mais fácil de entender o que tinha acontecido: o edifício da dona Flor havia desabado bem sobre a minha cabeça - literalmente.
Não sei quantos andares tinha ali, mas se eu estava indo visitar o décimo, havia pelo menos 10 andares de escombros em cima do meu corpo. Tudo era dor. Um cheiro muito forte, um breu total, minha boca estava cheia de poeira e tenho certeza que alguns órgãos foram perfurados. Dor, tudo era dor. Desmaiei.
Eu ouvia alguns gemidos por perto, mas não conseguia decifrar sequer uma palavra ou pedir socorro.
O trabalho dos bombeiros precisa ser delicado para que não acabem tirando a vida de algum soterrado e trabalho delicado demora.
Eu não sei onde foi parar a caixinha da dona Flor e sequer sei o que tinha dentro dela. Eu só tinha que entregar a caixinha. Desmaiei.
É impossível ter noção da passagem do tempo quando se está debaixo de escombros e com tanta dor.
Eu quase não consigo respirar. Me encontrem logo, eu clamo em silêncio mas em desespero!
Não ouço barulhos e não vejo luz. Sinto a falência de vários órgãos.
Eu não sinto mais o cheiro das nuvens, eu sinto o cheiro da morte. Não posso mais respirar ou eu não quero mais respirar. Dez andares, tem dez andares em cima de mim. Não há esperança, não há vida.
Dona Flor, o que tinha na sua caixinha que tomou a minha vida?
Eu puxei o ar e ele não veio.
terça-feira, 7 de janeiro de 2020
The killer kiss
sábado, 4 de janeiro de 2020
sexta-feira, 5 de janeiro de 2018
02/01/2018
Aproximadamente às 17h do segundo dia do ano, no Ed. Chaplin - que fica em frente ao meu - uma moça pulou do sexto andar.
Da minha janela era possível enxergar duas viaturas da PM, um carro do corpo de bombeiros, um carro de socorrista e alguns curiosos espiculando.
O dia estava nublado, ligeiramente frio e ventava atipicamente.
A primeira versão - que eu não acredito- é a de que ela havia brigado com o namorado e então decidido ceifar a própria vida daquela maneira terrível.
Acredito que as pessoas que estavam ali não eram uma fonte confiável de informações, levando em consideração que há uma forte tendência nas pessoas em inventar histórias, principalmente em tragédias como essa. Segundo, que acho escrota a maneira como as pessoas reduzem os problemas da vida de uma mulher a um relacionamemto mal sucedido, ignorando o peso e as dores de viver em uma sociedade em que nos esmaga, oprime e exige que sejamos o que esperam. Ora, existem muitas outras angústias no coração de uma mulher que poderiam levar a uma situação extrema como essa.
A psicologia explica que o instinto humano é de preservaçã, a pessoa que atenta contra a própria vida não está apenas sofrendo, está doente.
Sei que existem muitos casos de mulheres desesperadas que tomam essa iniciativa por causa de um homem, um namoro e até casamento que não deu certo.
A mim, resta a tristeza porque as pessoas que estavam reunidas ali, apenas estavam preocupadas com o motivo e não com o fato. Ninguém se importa com nada.
sexta-feira, 22 de dezembro de 2017
Joaninha
Era uma manhã de sol, como outras tantas, mas aquela seria diferente.
Levantou sonolento, e logo avistou um pontinho na parede. Dormira acompanhado e nem sabia. Agora tinha uma nova amiga, que cuidava com zêlo: uma joaninha amarela.
Chegou empolgado da escola para brincar com ela, mas ao chegar aprendera uma de tantas lições que a vida ainda ensinaria: não se pode aprisionar quem nascera para voar. Reflexivo, ligou o velho vídeo-game e aos poucos foi como se ela nunca tivesse existido.