sábado, 4 de setembro de 2010

Corredor da morte

Passos pesados e vagarosos, um passo a mais significava um passo a menos. A angústia de estar cada vez mais perto era quase tão grande quanto a de ainda estar tão longe.
O corredor era extenso, silencioso e branco, muito iluminado, os zumbidos das lâmpadas frias eram de dar nos nervos; vez em quando se escutava uma sucessão de “tocs tocs”, som de mais passos pesados e vagarosos.
De minuto em minuto, pensava na vaga idéia de mudar o sentido, direção e velocidade dos passos. Naquele momento era apenas um corpo em movimento; a expressão estava vazia, o ar tornou-se denso, dava sensação de frio, mesmo tratando-se de uma noite de verão, as mãos frias e molhadas.
É de fato incrível em quantas coisas a mente humana é capaz de pensar em apenas um segundo, o psicológico faz os ponteiros do relógio correrem e esquecerem-se de completar uma volta ao mesmo tempo, torna-se uma tortura, batalhas sem vencedores.
Faltavam somente alguns passos, a respiração perdeu o ritmo, a mão trêmula esticou-se contra vontade para girar a maçaneta... Sem saber o que aconteceria e como aconteceria. De olhos fechados a coragem chegou tímida. A porta foi aberta, e do lado de dentro estavam todos de pé, com expressões sérias; ficou nítido que ninguém sabia lidar com a situação, o silencio que sucedeu após a abertura da porta praticamente gritava por uma explicação plausível. Uma sirene ao longe quebrou o silêncio, interrompendo a exigência que o mesmo fazia; sucessões de “tocs tocs” agora cada vez mais rápidos pesaram o clima, os olhos de todos que ali estavam pousaram alarmados sobre a protagonista. Lágrimas escorreram caladas e vagarosas pelo rosto branco e delicado.
Quanto mais tempo se passava, mais chances eram desperdiçadas, chances que não voltariam e tempo que não poderia ser recuperado.
Já completava três dias sem noticias, bombardeios de descobertas que não fariam nenhum pai feliz; a duplicidade foi a forma que encontrou para encarar a vida.
Ela pensara em tudo. Escreveu, em seus papeis cor-de-rosa com desenhos infantis, contando onde esteve e descrevendo sua personalidade até então desconhecida por quase todos, nunca fora a filha desejada; explicações questionáveis agora já não importavam mais. Só se sabe a dor de perder um filho quem possui um. Assim fora sua vida, só compreendia quem acompanhava a dor, o medo, as noites em claro...
E foi assim, com lágrimas silenciosas, o ar denso e todos a olhando, em um movimento meticuloso, sacou uma arma da bolsa empoeirada, sem responder a nenhuma pergunta, sem citar uma palavra, apontou para sua cabeça, bem atrás da orelha e antes que qualquer um pudesse ao menos entender o que acontecia, puxou o gatilho.
Instantes antes havia pensado em deixar seu rosto intacto, para que lágrimas ensaiadas pudessem escorrer sobre seu cadáver.

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